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Pode falar sobre pornografia? 🤐

Não sou uma pessoa transante ou super descolada que manja muito das sacanagens, no entanto, não acho normal a forma que me sinto e que percebo que muitas outras mulheres também se sentem diante de um material que deveria ser no mínimo excitante.
Gastei um bom tempo refletindo sobre a indústria porn, lendo materiais e questionando pessoas. Cheguei a diversas conclusões e indagações que nunca pensei que um dia fosse sentar para redigir por serem muito confusas e complexas, mas para organizar esses pensamentos e trazer ao menos 1/3 deles a mão, resolvi fazê-lo por meio de tópicos. Claro que muitas coisas ficarão de fora, mas ao menos ficam alguns questionamentos que podem ser bacanas.

1- Por quem são feitos os conteúdos porn/eróticos ?

Não há como rotular tão precisamente e nem dar juízo de valor a toda uma categoria, é uma indústria gigante, globalizada e cheia de nuances indo dos níveis mais leves até o dark side das práticas sexuais, na verdade rotular nunca foi minha intenção, mas acima de tudo é importante pensar que para cada Sasha Grey, pode existir uma LoveLace. Enquanto uma adora sexo e está lá porque até consegue gozar de verdade, a outra começou por fruto de um assédio e sua trajetória foi coberta de abusos, que a levou e condicionou a vida pornô.
Mas há quem diga: “não é possível estuprar uma atriz pornô” e afirmações como essa são só a ponta do iceberg de um problema que pode ser bem maior.
(Geralmente gosto muito das matérias da Liga, mas nesse episódio foi evidente a falta de distanciamento dos repórteres em relação ao assunto. As piadinhas e o desconforto gerado com os atores, ficou evidente no olhar na galera e no jogo de cintura que eles tentavam ter diante dos comentários nonsense que não agregaram em nada ao conteúdo. Apesar de tudo isso o vídeo é bem bacana.)
Talvez na hora em que está se divertindo assistindo um pornô inocente seja muito fácil imaginar que aquela não é uma pessoa, que não tem história, nome ou qualquer fator que a personifique. Em certos casos ela tem tanto valor quanto um buraco lubrificado em uma parede escondida ou o rosto dela é a ultima coisa que importa, desde que a expressão seja de dor. É triste ter que te lembrar que todos os envolvidos nessa equação tem histórias, tanto ela, quanto ele, o diretor deles e você. Todos unidos por uma foda que acabará parte no seu papel higiênico e parte no bolso de algum cara que raramente fazemos a remota ideia de quem é.
Vai parecer meio louco, mas para mim, pensar na indústria pornô é quase como pensar em de onde
veio a sua maconha. Já refletiu sobre o caminho que ela percorreu até ser fumada por você? Talvez se a gente pensar demais em certos detalhes da vida eles podem ficar assustadores e até mesmo perder a graça, mas qual a melhor tática? Ignorar? Não, pense um pouco. Vídeos de pessoas abusando de outras dormindo, garotas que não sabem que estão sendo filmadas, vídeos vazados por vinganças de namorados ou hackers, garotas de menores, caras encoxando mulheres em lugares públicos, simulações de estupro que entre outras mil coisas ainda são consideradas pornografia suave, mas que agride brutalmente um dos envolvidos e traz lucro/ reconhecimento para alguém que não merece nem oi. Tudo tem consequências e seu like pode cooperar para fins nada legais ou propagação de culturas danosas.
Tem todo tipo de pornografia em todos os lugares, no Snapchat, no Tumblr, no VK, no Whatsapp, no Períscope, nos sites especializados...é uma chuva interminável que torna  a variedade de corpos nus facilmente alcançáveis como nunca antes foram. Uma das coisas que se pode começar a fazer por uma simples questão de empatia, é selecionar com mais cuidado o tipo e as vias por quais consome a sua putaria de cada dia, e assim, evitar alimentar meios exploradores ou bater palminhas para aliciadores através dos seus views.

2 - Para quem são feitos?

Pornografia é essencialmente feita por homens e para homens.
Nessa equação a parte em que as mulheres assistem e podem também sentir prazer através do estimulo visual fica completamente esquecida em closes intermináveis de vaginas, faces com expressões de dor, posições de extrema submissão, humilhações constantes, porra na cara e a redução dos dois (ou mais) elementos envolvidos aos seus órgãos sexuais. Coisa mais difícil é perceber que o resto do corpo existe e que também pode ser tocado.
Com a facilidade já citada anteriormente, o primeiro contato que nossos jovens têm com sexualidade são os filmes pornôs de fácil acesso em sites especializados. A opinião que mais escuto entre as pessoas da minha idade é que não acreditam que alguém assiste filme pornô esperando aprender alguma coisa que possa ser aplicada a realidade, então lhe pergunto, e para um garoto de 10 anos que nunca viu ninguém nu, além daquela mulher que adora ser humilhada e diz que quanto mais dor melhor? Como você acha que ele vai enxergar as meninas? Como você acha que ele vai tentar tratar uma mulher quando tiver a sua primeira transa?

(Nesse TED o cara explica os efeitos  da exposição prematura a pornografia encontrados através de pesquisas científicas em jovens e adultos e as alterações cerebrais que isso causa)

Assim como a primeira Playboy era considerada um rito de passagem para qualquer menino até 90’s, o xvideos e o pornhub são para garotos ainda mais jovens da geração z. É um fato praticamente incontestável dizer que as mulheres são tradas como lixo na pornografia comum e que os danos causados por esse tipo de visão são facilmente perceptíveis na nossa cultura de Pânico na Tv, paixão por anal, peitos siliconados e corpos inteiramente depilados.
Se parar para pensar bem direitinho, talvez As aventuras de Justine hoje não fosse mais que classificação 16 anos.

  3- Mulheres e filmes porn.


Por que tantas mulheres gostam de assistir material homossexual? Mais uma vez fica complicado falar por todas, mas dentre as que eu conversei, o motivo mais comum é a ideia de cumplicidade entre as partes envolvidas. No sexo gay quase sempre todos são tratados como iguais, há muito mais respeito e sensação de prazer compartilhado. Essa discrepância é ainda mais evidente quando se compara hentai heterossexual com hentai homossexual.
Erika Lust
O desconforto feminino em relação aos filmes eróticos não é um fator novo, e de olho nesse mercado potencial, vários sites especializados em pornografias pensadas para mulheres surgiram nos últimos anos. Neles você percebe um trabalho mais bem cuidado de luz, cor, tentativa de química entre os atores e uma direção mais sutil que traz todo o corpo para a cena e não somente partes isoladas em zoons desnecessários.
Dentro dessa ótica que visa tornar os filmes pornôs mais palatáveis para as mulheres surgiram além das citadas, várias outras formas de se pensar pornografia. Há quem faça vídeos que contemplam a visão da mulher dentro da relação, neles a câmera tenta capturar as cenas dentro do ângulo de visão feminino. Há também os sites em que casais de verdade podem compartilhar suas transas e pessoas comuns suas intimidades em troca de colaboração financeiras. Dentre todas que já ouvi falar a novidade mais amada até então são os filmes da Erika Lust, pensados para que os casais possam assistir juntos sem causar desconforto a nenhuma das partes ou para que as meninas possam ter materiais bacanas para consumirem no conforto da solidão.

4 - Vício em pornografia.



( Filme Don Jon traz a vida de um cara viciado em pornografia que desenvolveu dificuldade em manter relações sexuais reais, exatamente como na matéria explorada nesse post super interessante que traz um ponto de vista diferente sobre o mesmo problema. http://papodehomem.com.br/os-efeitos-do-excesso-de-pornografia/)
E como falar de tudo isso sem tocar em um assunto ainda muito sensível aqui no Brasil? Talvez por nossa relação cultural com o sexo, admitir esse tipo de coisa seja um pouco difícil para os caras que gostam de se afirmar como garanhões e etc. No entanto, é consenso em algumas esferas de pesquisa que o excesso de pornografia podem causar sérios danos psicológicos que vão muito mais além do que a forma que os homens tratam as mulheres, mas se configura em um mal mais profundo que danifica a longo prazo toda a forma que eles se relacionam com o sexo e consigo mesmo. Depressão, isolamento e impotência são somente um dos sintomas. 



Por uma questão de sensibilidade e complexidade do assunto, deixo aqui alguns links interessantes que podem elucidar a maioria das dúvidas que surgem quando se começa a procurar sobre o assunto.


Infelizmente os conteúdos nacionais sobre o assunto geralmente são religiosos, mas ainda assim em alguns deles valem a pena dar uma olhada. Façam uma busca no Google e com certeza vão encontrar mais coisas de fontes qualificadas falando sobre o assunto de uma forma científica e objetiva.

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