Gastei um bom tempo refletindo sobre a indústria porn, lendo
materiais e questionando pessoas. Cheguei a diversas conclusões e indagações que
nunca pensei que um dia fosse sentar para redigir por serem muito confusas e complexas, mas para
organizar esses pensamentos e trazer ao menos 1/3 deles a mão, resolvi fazê-lo por meio de tópicos. Claro que muitas coisas ficarão de fora, mas ao menos ficam alguns questionamentos que podem ser bacanas.
1- Por quem são feitos os conteúdos porn/eróticos ?
Não há como rotular tão precisamente e nem dar juízo
de valor a toda uma categoria, é uma indústria gigante, globalizada e cheia de
nuances indo dos níveis mais leves até o dark side das práticas sexuais, na
verdade rotular nunca foi minha intenção, mas acima de tudo é importante pensar
que para cada Sasha Grey, pode existir uma LoveLace. Enquanto uma adora sexo e
está lá porque até consegue gozar de verdade, a outra começou por
fruto de um assédio e sua trajetória foi coberta de abusos, que a levou e condicionou a vida pornô.
Mas há quem diga: “não é possível estuprar uma atriz pornô”
e afirmações como essa são só a ponta do iceberg de um problema que pode ser
bem maior.
(Geralmente gosto muito das matérias da Liga, mas nesse episódio foi evidente a falta de distanciamento dos repórteres em relação ao assunto. As piadinhas e o desconforto gerado com os atores, ficou evidente no olhar na galera e no jogo de cintura que eles tentavam ter diante dos comentários nonsense que não agregaram em nada ao conteúdo. Apesar de tudo isso o vídeo é bem bacana.)
Talvez na hora em que está se divertindo assistindo um pornô
inocente seja muito fácil imaginar que aquela não é uma pessoa, que não tem
história, nome ou qualquer fator que a personifique. Em certos casos ela tem tanto
valor quanto um buraco lubrificado em uma parede escondida ou o rosto dela é a
ultima coisa que importa, desde que a expressão seja de dor. É triste ter que
te lembrar que todos os envolvidos nessa equação tem histórias, tanto ela,
quanto ele, o diretor deles e você. Todos unidos por uma foda que acabará parte
no seu papel higiênico e parte no bolso de algum cara que raramente fazemos a
remota ideia de quem é.
veio a sua maconha. Já refletiu sobre o caminho que ela
percorreu até ser fumada por você? Talvez se a gente pensar demais em certos
detalhes da vida eles podem ficar assustadores e até mesmo perder a graça, mas
qual a melhor tática? Ignorar? Não, pense um pouco. Vídeos de pessoas abusando
de outras dormindo, garotas que não sabem que estão sendo filmadas, vídeos
vazados por vinganças de namorados ou hackers, garotas de menores, caras
encoxando mulheres em lugares públicos, simulações de estupro que entre outras
mil coisas ainda são consideradas pornografia suave, mas que agride brutalmente um dos envolvidos
e traz lucro/ reconhecimento para alguém que não merece nem oi. Tudo tem consequências e seu like pode cooperar para fins nada legais ou propagação de culturas danosas.
Tem todo tipo de pornografia em todos os lugares, no
Snapchat, no Tumblr, no VK, no Whatsapp,
no Períscope, nos sites especializados...é uma chuva interminável que torna a variedade de corpos nus facilmente alcançáveis
como nunca antes foram. Uma das coisas que se pode começar a fazer por uma simples
questão de empatia, é selecionar com mais cuidado o tipo e as vias por quais
consome a sua putaria de cada dia, e assim, evitar alimentar meios exploradores
ou bater palminhas para aliciadores através dos seus views.
2 - Para quem são feitos?
Pornografia é essencialmente feita por homens e para homens.
Nessa equação a parte em que as mulheres assistem e podem
também sentir prazer através do estimulo visual fica completamente esquecida em
closes intermináveis de vaginas, faces com expressões de dor, posições de
extrema submissão, humilhações constantes, porra na cara e a redução dos dois
(ou mais) elementos envolvidos aos seus órgãos sexuais. Coisa mais difícil é
perceber que o resto do corpo existe e que também pode ser tocado.
Com a facilidade já citada anteriormente, o primeiro contato
que nossos jovens têm com sexualidade são os filmes pornôs de fácil acesso em
sites especializados. A opinião que mais escuto entre as pessoas da minha idade
é que não acreditam que alguém assiste filme pornô esperando aprender alguma
coisa que possa ser aplicada a realidade, então lhe pergunto, e para um garoto
de 10 anos que nunca viu ninguém nu, além daquela mulher que adora ser humilhada
e diz que quanto mais dor melhor? Como você acha que ele vai enxergar as
meninas? Como você acha que ele vai tentar tratar uma mulher quando tiver a sua
primeira transa?
(Nesse TED o cara explica os efeitos da exposição prematura a pornografia encontrados através de pesquisas científicas em jovens e adultos e as alterações cerebrais que isso causa)
Assim como a primeira Playboy era considerada um rito de
passagem para qualquer menino até 90’s, o xvideos e o pornhub são para garotos
ainda mais jovens da geração z. É um fato praticamente incontestável dizer que
as mulheres são tradas como lixo na pornografia comum e que os danos causados
por esse tipo de visão são facilmente perceptíveis na nossa cultura de Pânico
na Tv, paixão por anal, peitos siliconados e corpos inteiramente depilados.
Se parar para pensar bem direitinho, talvez As aventuras de
Justine hoje não fosse mais que classificação 16 anos.
3 3- Mulheres e filmes porn.
Por que tantas mulheres gostam de assistir material
homossexual? Mais uma vez fica complicado falar por todas, mas dentre as que eu
conversei, o motivo mais comum é a ideia de cumplicidade entre as partes
envolvidas. No sexo gay quase sempre todos são tratados como iguais, há muito
mais respeito e sensação de prazer compartilhado. Essa discrepância é ainda
mais evidente quando se compara hentai heterossexual com hentai homossexual.
Erika Lust |
O desconforto feminino em relação aos filmes eróticos não é
um fator novo, e de olho nesse mercado potencial, vários sites especializados em
pornografias pensadas para mulheres surgiram nos últimos anos. Neles você
percebe um trabalho mais bem cuidado de luz, cor, tentativa de química entre os
atores e uma direção mais sutil que traz todo o corpo para a cena e não somente
partes isoladas em zoons desnecessários.
Dentro dessa ótica que visa tornar os filmes pornôs mais palatáveis
para as mulheres surgiram além das citadas, várias outras formas de se pensar
pornografia. Há quem faça vídeos que contemplam a visão da mulher dentro da
relação, neles a câmera tenta capturar as cenas dentro do ângulo de visão
feminino. Há também os sites em que casais de verdade podem compartilhar suas
transas e pessoas comuns suas intimidades em troca de colaboração financeiras.
Dentre todas que já ouvi falar a novidade mais amada até então são os filmes da
Erika Lust, pensados para que os casais possam assistir juntos sem causar
desconforto a nenhuma das partes ou para que as meninas possam ter materiais
bacanas para consumirem no conforto da solidão.
4 - Vício em pornografia.
( Filme Don Jon traz a vida de um cara viciado em pornografia que desenvolveu dificuldade em manter relações sexuais reais, exatamente como na matéria explorada nesse post super interessante que traz um ponto de vista diferente sobre o mesmo problema. http://papodehomem.com.br/os-efeitos-do-excesso-de-pornografia/)
E como falar de tudo isso sem tocar em um assunto ainda
muito sensível aqui no Brasil? Talvez por nossa relação cultural com o sexo,
admitir esse tipo de coisa seja um pouco difícil para os caras que gostam de se
afirmar como garanhões e etc. No entanto, é consenso em algumas esferas de
pesquisa que o excesso de pornografia podem causar sérios danos psicológicos
que vão muito mais além do que a forma que os homens tratam as mulheres, mas se
configura em um mal mais profundo que danifica a longo prazo toda a forma que
eles se relacionam com o sexo e consigo mesmo. Depressão, isolamento e impotência são somente um dos sintomas.
Por uma questão de sensibilidade e complexidade do assunto, deixo
aqui alguns links interessantes que podem elucidar a maioria das dúvidas que surgem quando se começa a procurar sobre o assunto.
Infelizmente os conteúdos nacionais sobre o assunto geralmente são religiosos, mas ainda assim em alguns deles valem a pena dar uma olhada. Façam uma busca no Google e com certeza vão encontrar mais coisas de fontes qualificadas falando sobre o assunto de uma forma científica e objetiva.
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