Os 25
No primeiro dia do TCC, meu
professor perguntou a cada membro da equipe o que planejava fazer depois que
tudo acabasse e eu, toda contente, respondi algo que nem lembro mais, mas que
teve uma resposta que com certeza nunca vou esquecer: “Engraçado você falar
isso assim tão animada, quando estava formando fiquei apavorado e quando me
formei passei os piores meses da minha vida até finalmente me encontrar”.
Obrigada Professor Ayrosa, você
definiu toda a piada que era a minha confiança em somente uma frase que me
segue como uma bigorna caindo repetitivamente na cabeça do Coite por no mínimo
5 meses.
Em tempo de crise o céu continua
azul.
Em 5 meses não me faltaram
processos de trainee, mas faltaram vagas normais abertas que não tivessem o
pedido por experiência obrigatória . Impressionante como o site Vagas
ficou deserto, mas nesse período aconteceram muitas coisas, com a vida corrida
que costumava ter, não sobrava muito tempo e disposição para concluir minhas
leituras voluntárias ou para pensar em mim. Quando não se tem nada para fazer,
uma semana vira um mês com uma facilidade incrível, não nego ter desperdiçado
energia em uma “bad” tremenda, mas não demorei muito choramingando e comecei a
questionar coisas fundamentais para entender a minha situação:
O que você está
fazendo?; Por qual motivo pediu para sair do emprego em que estava?; O que você
está procurando no mundo?; Por que não está dando certo?; O que você está
fazendo de errado e o que realmente deveria fazer?; O que é preciso para
alcançar a meta?; Qual a meta?
Em busca de
respostas/conhecimento/network frequentei várias palestras bacanas, tomei nota
de novas referências e caminhos de estudo, embarquei em uma viagem inédita de
leitura de livros que colaborem para o autoconhecimento e alguns de
antropologia para entender o meio. Aqui fica a lista de alguns dos que mais
gostei.
1- Empregabilidade: fala sobre as escolhas que se faz para trilhar
uma carreira e como é difícil para algumas pessoas se recolocarem no mercado de
trabalho, mas deixa claro que não é impossível ou algo de outro mundo desde que
perceba os seus pontos fortes.
2- Ansiedade, do Augusto Cury.
Ele trata a ansiedade como o mal do século e mostra como quase tudo que nos
rodeia alimenta essa deficiência que pode prejudicar todas as áreas da vida e
não somente a profissional como todos imaginam.
3- 44 cartas do mundo líquido:
O Zigman tráz um pouco de cada aspecto da sociedade e a instabilidade das
coisas e dos sentimentos. Acredito que todo mundo já ouviu falar da teoria da
liquidez, mas a maioria dos que citam só leu Amor Liquido.
4 - Inteligência emocional: Ele diz sempre com
um toque esperançoso todas as burradas e vantagens que ser ou não centrado
emocionalmente podem trazer para a vida social, sentimental e profissional.
5 – Ponto de virada: Vi muitas
pessoas comentando sobre ele e não pude deixar de ler, por necessidade ou por
curiosidade. Com a análise dele sobre os pequenos fatores que podem ou não lhe
conduzir ao sucesso e tipo de pessoas e suas habilidades relacionais ele
reitera de uma forma extremamente racional e prática a teoria do bater de asas
de uma borboleta e suas implicações.
Descobri que fiz muita besteira
e a cada capitulo tento aproveitar essa crise existencial para resgatar o
melhor de mim e indico isso para todos os milhões de brasileiros que tiraram
férias forçadas. Procurem conteúdos que seus professores jamais apresentariam
para vocês, e assuma as rédeas mesmo que tardias da sua formação intelectual.
Proponho que entre em uma jornada de autoconhecimento que com certeza vai lhe
transformar em um profissional 100% melhor quando voltar ao mercado de
trabalho, muito mais preparado, sabendo o que se está buscando e o que de
melhor tem para oferecer a sociedade e ao contratante. Não estou prometendo
todas as respostas que procuram, mas sim, uma chance maravilhosa de se
reabastecer e de repensar velhos posicionamentos. Tem serventia melhor para uma
crise? O gatilho para que surjam não é o
acumulo de pontas soltas deixadas para trás ou até mesmo impactos fortes que
lhe tiram a estabilidade? Há como passar vencedor por uma grande crise sem
reencontrar o eixo?
Perguntas brotam do chão, mas
isso não é o efeito da crise nacional ou efeito da minha fatídica crise dos 25,
na verdade, questionamentos surgem toda vez que uma pessoa inquieta se sente aprisionada
em uma situação desagradável, ou toda vez que uma empresa é retirada do seu
ponto de conforto. Quando isso acontece é necessário desconstruir para
reagrupar melhor e mais forte, caso contrário, o destino é o chão.
Nunca se está sozinho e a voz é
coletiva.
Sempre achei interessante a
ideia das gerações, acredito sim que faz muito sentido, é uma analise do
ambiente, mas que muitas vezes se parece com a leitura de um horoscopo que você
deseja muito que seja verdade. A mídia pegou todos os membros da minha geração,
colocou em um saquinho e o adesivou com o nome geração Y. Algumas matérias perguntam
com certo sarcasmo por qual motivo “esses jovens andam tão desmotivados” e
prontamente respondem algo como “foram muito mimados pela liquidez moderna, querem
ser promovidos logo, como pode isso?”, “eles cresceram ouvindo dizer que eram
especiais” ou nos investigam com a lupa da conveniência e apresentam como
padrão os “modelos” mais legais que temos e dizem como eles estão se saindo
durante a crise.
Tenho plena consciência que
dentro de milhões de pessoas que possuem a mesma idade que eu, uma parcela já
ocupa cargos brilhantes e possui carreira de dar inveja a qualquer quarentão
conservador, mas o que me parece é que não percebem que as diferenças da nossa
geração são ainda maiores do que se podem esperar, há milhões de nós misturados
a uma massa amorfa que não estão na melhor fase das suas vidas, se destacam
pouco a pouco traçando caminhos diferentes dos esperados e que podem ser
fatores decisivos para o que teremos na próxima década e ninguém sabe para onde
em passos de formigas eles estão caminhando.
Sempre me perguntei porque
gostam tanto de produzir conteúdo agrupando e dissecando gerações quando tão
poucos realmente trazem algo novo ou útil. Com quem desejam se comunicar? Estão
querendo preparar os empregadores e os colegas para a nossa “chegada”? É
engraçado pensar nisso quando eles falam da geração com tanto brilho nos olhos,
mas não brilham tanto quando falam das nossas conquistas. Onde está a tv aberta
enaltecendo e dando a devida importância ao crescimento dos aplicativos
utilitários e tantas outras conquistas polêmicas da nossa geração que põe em
risco as velhas formas de se conduzir o capital? Só é noticia quando os dados
vazam ou algo dá errado? E sobre as milhares de revoluções que estão
acontecendo? Lowsumerism, Economia compartilhada, capitalismo consciente,
explosão do veganismo, slow life o crescimento do cyber ativismo e muitos
outros que todos os dias ganham ainda mais força nas redes e que na minha
humilde opinião, fazem grande parte da chave para a saída dessa situação
complicada que estamos passando. Falem dos feitos sem que seja em um evento de
startups e sem colocar os CEOs como nerds fora do comum!
O futuro é agora, mas tem gente
que não percebeu.
Está tendo crise? Está tendo
muita crise e Deus sabe quando vai melhorar.
Acho maravilhoso ver os
empresários dizendo que vendem lenço para as suas lágrimas, que a crise é uma
ótima oportunidade para crescer e desenvolver soluções criativas, que alguns só
estão perdidos porque faz muitos anos que não passamos por uma crise como esta
e alguns ainda são inexperientes. Concordo plenamente! Temos milhares de
exemplos que perduram até hoje nascidos das grandes guerras ou em um desses
apertos mundiais que nos trouxeram até onde estamos.
Mas no ano de 2013 nunca se
falou tanto em treinamento e manutenção do conhecimento do staff, disseminaram
a ideia ma-ra-vi-lho-sa de que é também da responsabilidade da empresa fazer
com que os seus funcionários olhem um pouco para fora dos seus cubículos e os
tornassem cada vez menos reféns das suas rotinas de afazeres. No entanto, na
área de comunicação apesar de ter pessoas de visões naturalmente ampliadas e
criativas, cada vez se encontra mais profissionais cansados, desiludidos com os
seus trabalhos e sonhando todos os dias em se tornar algum tipo de hippie no
Capão ou artista alternativo. Aliás, não sei se há um grupo de profissionais
tão desiludidos como o dos publicitários. Conseguem perceber o grande problema
disso na produção do conteúdo a que somos expostos todos os dias?
Sabe o quão rápido o mundo está
mudando? Imagina então o quão importante é para a empresa trazer pessoas com
diferentes histórias de vida e experiências para compor com qualidade o QI do
seu grupo de trabalho? E por que os empresários depois de tudo o que já
aprenderam e da alma tão destemida que apresentam diante das instabilidades têm
dificuldade de pluralizar (em todos os sentidos) o seu quadro de funcionários e
tanto medo de investir nas cabeças novas e sem experiências nas áreas que
desejam ocupar? Já parou para pensar o quanto essas pessoas cheias de bagagens
complementares e vontade de produzir, podem trazer a pitada de sal que faltava
para o seu negócio oferecer algo a mais para os seus clientes?
Trecho do livro Inteligência Emocional. |
Um quadro de pessoas mais
maduras, misturado a pessoas jovens, de diferentes origens, especialistas de
diferentes vieses, complicado de lidar com toda essa diversidade? Com certeza,
mas imagina só a amplitude da visão! Duvido muito que em tempos como esse se
permitiriam liberar uma campanha que fala sobre diferentes tipos de mulheres,
mas que excluem as negras e as gordas dessa diversidade.
Como disse anteriormente, a
lista de questionamentos é enorme, mainha costuma dizer que é das pequenas
inquietações que surge o novo, e nunca se precisou tanto de pessoas com
capacidade de conectar boas referências e conduzir as marcas para o lado certo
do labirinto.
Escrevi pensando muito no meu
setor de atuação, mas imagino que essas dissonâncias e provocações valham para
todos que estão no momento em que sabem exatamente o que não querem, são
criteriosos com as suas escolhas e possuem a sua frente uma imensidão de
possibilidades na qual sem dúvidas gostariam de se encaixar sendo não menos que
algo maravilhoso, querendo encontrar uma forma real de colaborar com a sociedade
e impacta-la positivamente. Não há mal em escolher onde e pra quem você deseja
trabalhar, na verdade isso só fará sua decisão ser mais assertiva e duradoura.
Eu ainda não encontrei um
jeito, ainda não sei o que ou como fazer, corro o risco de estar romantizando
toda uma jornada tradicionalmente árida, mas tenho certeza que vou encontrar o
meu lugar, e o abraçarei com empenho, brilho nos olhos e dedicação. Não houve
crise antes dos 25, mas também nunca houve uma chance tão grande de fazer algo
maior acontecer.
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