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[Rolê do quase 30] Mandando cartas para o futuro

Esse texto contém uma visão levemente pessimista motivada pela entidade do trampo ruim+ TPM que nesse momento habita em mim. Ele é contra indicado para pessoas extremamente bem sucedidas antes do 25 e para herdeiros.

Todo mundo diz que idade não importa, mas o motivo para que todos afirmem isso com tanta paixão é terem passado muito tempo elaborando formas de refutar tudo aquilo que pensavam e diziam sobre pessoas com 30 anos quando tinham somente 18. Claro que idade importa para um monte de coisas! Particularmente para as mulheres existem fatores que fazem o número que vem depois do mês contar ainda mais, se não como motivador de tristeza e ansiedade, como fator de lembrança e demarcação.

É uma delícia estar no mundo moderno e poder dizer abertamente que não quer ter filhos, um pouco controverso, mas totalmente aceitável. No entanto, é completamente diferente quando a opção de não ter crianças sai da sua mão e vai para a mão da Biologia. Ela costuma ser bem grosseira, olha para sua cara e dá uma grande gargalhada de escárnio diante dos seus 35 anos. Não querer é bem diferente de não poder. Para a gente que um dia morreu de medo de engravidar precocemente e acabar entrando para as estatísticas, agora se pegar pensando na possibilidade de nunca engravidar com certa melancolia é assustador. 

Na minha família, felizmente ou não, as mulheres costumam engravidar até mesmo com 40, mas não é exatamente esse o ponto dessa conversa e sim a sensação que o relógio está correndo e que você perdeu a hora. Homens, não se atenham a esse ponto! Não sejam bobos!

Todo mundo faz planos, algumas pessoas mais que outras, mas sem exceções todo mundo tem sonhos e desejos que cultivavam desde os tempos da escola. Lá tudo parecia ser possível se você se esforçasse o suficiente para isso. Disseram que você poderia fazer e ser tudo que desejasse e você acreditou. Ok. Bateu trinta, você tentou e tentou sem obter sucesso algum e a sensação de que agora você tem que parar de tentar é uma força quase cósmica que invade a alma com um Parabéns Para Você.  Tem que parar mesmo? Não sei, mas para quase todo mundo é agora que morre o sonho e nasce a frustração.

Nem tudo é tristeza e esse limbo do “estou jovem para ser velha e velha para ser jovem” deve ter no mínimo muitas aventuras escondidas em meio ao caos psicológico de quem deseja se manter emocionalmente sob controle enquanto vê que o mundo andou sem você. Dramático? Sim! Se não fosse não teria graça.

Já ouviu falar que a nossa geração fez o favor de esticar a adolescência? O período mais merda da vida ganhou anos de brinde, simplesmente porque a gente não está sabendo direito como amadurecer. Se eu fosse comparar em tom de competição a minha vida com a vida da minha mãe quando tinha a mesma idade eu, teria aí uma série de motivos para chorar por uma perda esmagadora. Ao invés de criarmos asas, viramos cangurus e por incrível que pareça, toda a velocidade e do nosso dia a dia deixou as coisas mais básicas ainda mais lentas para a maioria de nós.

Existe um site chamado Future Me que te permite escrever e-mails que serão enviados em datas futuras e deixa a sensação de cápsula do tempo. Já havia escrito um e-mail há 3 anos que recebi recentemente e me deu uma sensação muito louca de estar falando comigo mesmo, porém deixando evidente o quanto mudei. Essa experiência daria assunto suficiente para um texto específico e vou pensar bastante nessa possibilidade.

Bem...escolhi mandar um e-mail de apoio, carinho e admiração para mim mesma no dia do meu aniversário de 30 anos. Pelo que me conheço vou precisar de todo suporte do mundo para passar por essa data, onde já chequei e sei que estarei de TPM.  Fui gentil comigo e tentei simular um daqueles episódios de sitcom do tipo em que vem uma pessoa do futuro alertar sobre as coisas que você não deveria fazer. Usei todo o meu poder de vidente para me presentear com uma coisa especial que levantará o meu humor em um dia que deveria ser tão feliz. PQP! Serei oficialmente adulta somente pela força do tempo e sem nenhuma prova material ou econômica disso! 

Parabéns para mim! SERÁ?
Não sei, mas com certeza virão muitas aventuras e pensamentos que me farão alimentar esse blog como nunca antes na história dessa URL.

O final de um ciclo! A web diva morreu.


O computador e a internet chegaram bem tarde para mim. Ganhei o meu primeiro PC em 2008 e nesse mesmo ano descobri um universo maravilho que ressignificou a minha vida. Lógico que antes ia muito a lan houses, mas não é a mesma coisa nem de longe. Quando o mundo digital entrou na minha casa não havia mais dia ou noite e acima de tudo, não havia mais solidão.

Nunca fui das pessoas mais sociáveis, mas sempre tive amigos e grupos com os quais costumava andar e compartilhar coisas da vida. Eram amizades de escola e faculdade que poderiam atravessar os anos ou não. Depois que a internet chegou acabei me trancando no mundo digital e aprendendo a me expressar de outras formas que me tornaram próximas de pessoas que viviam a quilômetros de distância e absurdamente mais distante das que estavam do meu lado.  Acomodei com as relações intensas, porém confortáveis, que desenvolvia através da tela e não me interessava mais pelos olhos, toque ou manter por perto pessoas que conhecia no dia a dia. Perdi todos os amigos daquela época, eram poucos, mas tinha rs

Ontem depois de 10 anos tive um momento de iluminação e resolvi repensar tudo o que tenho feito até agora, me foquei em tirar lições de cada acontecimento vivido de lá pra cá e posso dizer com tranquilidade que enterrei os meus 20 e poucos anos na tela de um computador. Sinto que agora chegou o momento de crescer e conhecer outros universos que podem ser tanto ou mais acolhedores quanto o digital foi no momento em que mais precisava. Sair do meu quarto, ver shows pessoalmente, praticar atividades externas...as possibilidades são inúmeras.

São incontáveis os amigos que fiz, as histórias que vivi e as coisas que aprendi com cada pessoa que encontrei por esses caminhos tortuosos da web.  Todas as relações que tive foram intensas e reais de jeitos muito especiais. Cada amor era de um jeito e cada paixão que senti me fez um pouco mais a mulher que sou hoje.

Esse é claramente o texto de uma nerd solteirona que só sabia rir, pertencer a uma comunidade e namorar pela internet. Essa é uma parte de mim que vou manter guardada com muitooo carinho e gratidão, mas que por mais que tentasse evitar, morreu.  Essa pessoa de 10 anos atrás, que chegou aqui sempre saber o que encontrar, já não existe mais e as coisas que a faziam feliz, já não servem mais para mim.
Como será a vida pós-web-life?

Primeiramente, me sobrará mais tempo para ler livros e escrever. Sei disso porque já cortei o computador por um tempo e foi exatamente isso que fiz.

Em segundo lugar, não me sobrará opção a não ser dar oportunidade para que as pessoas que estão a minha volta façam parte da minha vida e contribuam de forma real para o meu dia a dia e essa é a parte só não é mais difícil que o tópico: “talvez deixar de ser uma solteirona”. Se apaixonar olhando no olho!? Quem faz isso? kkk

Sempre falei sobre solitude por ser uma coisa em que realmente acredito e busco desenvolver um pouco mais todos os dias, mas a vida não é somente amar-se e entender- se. O mundo não começa e termina na gente e cada um tem o potencial de ser o epicentro de algo muito bacana que impacte outros seres humanos de forma real e benéfica. O Dr. Martin Luther King tinha esse modelo que amo revisitar e que só agora me predispus a executar.



Vamos redescobrir o mundo, coleguinhas!

Somos todos Pinocchios?

O que é verdade? Qual a sua verdade?
Todos os dias nós temos o dever moral de dividir as nossas verdades com outras pessoas em conversas triviais ou em conversas mais profundas que demandam empatia e prometem conexões. Porém, tem um ponto pouco questionado por parecer sempre uma troca muito automática entre pessoas que se querem bem, pessoas que não se importam ou entre as que desejam o mal uma a outra silenciosamente e que negariam até a morte se fosse necessário. Por que você deve a verdade a todas as pessoas que passam na sua vida?

Não estou falando em ser um mentiroso compulsivo, mas sim sobre a relevância em dividir a sua vida e as coisas em que você verdadeiramente acredita ao escrutínio público. Quem merece as suas verdades?Você precisa e realmente quer saber como as OUTRAS pessoas se sentem em relação as questões DA SUA VIDA?

Vamos supor que você minta e mascare quem você é de verdade debaixo de uma sombra de ilusão que no fim irá sempre te deixar sozinho, porém sempre um passo a frente de qualquer pessoa que quiser te magoar, te ferir e criar dores futuras que podem ser irremediáveis.
Quase todo mundo consegue fazer isso com o carinha aleatório da balada, mas e no dia a dia com pessoas que você pouco que se importa? Quão ilícito é mascarar-se por baixo de mentiras? Será que você está fazendo isso para se preservar de invasores ou para agradar e se misturar com mais facilidade? Talvez você esteja fazendo os dois e isso não é grande coisa. Ou é?

Quando você vai para o trabalho e deixa os seus problemas atrás da porta. Sorri para todos como se estivesse tudo bem, diz para o seu chefe que a ideia dele é maravilhosa mesmo sendo uma bosta, come a comida favorita da equipe somente para ser cortês e compra um presente legal para o aniversário do chefe que você odeia. Tudo isso não é só um personagem? Tudo isso não é uma grande mentira? Você e eu sabemos que aquela pessoa excessivamente divertida não existe ou que aquela pessoa calma e dócil, na verdade tem uma ulcera gigante causada por tanto engolir os seus próprios sentimentos.

Por que esse tipo de mentira é socialmente aceita e estimulada, quando outros tipos são execrados e encarados com espanto moralista?

Esse é o principio de um texto onde pretendo desenvolver grande parte dessas reflexões, por enquanto vá questionando o quanto você é real e o quanto você é somente uma mentira que não se deu conta que está contando.



[About Lorena] A amiga mais rara do mundo.


A gente se conhece desde o ensino fundamental, a Lorena é sem dúvida a minha amiga mais antiga e a mais diferente. Ela não era a mais feia e nem a mais bonita, mas sempre foi uma das mais espertas, divertidas e antenadas. Quando estávamos crescendo todo mundo tinha um garoto de quem gostava e ela também tinha, a diferença é que de um ano para o outro nunca mudava o alvo da paixonite e que ela nunca se aproximava de ninguém.

O tempo foi passando e cogitamos que fosse assexuada, sempre gostou dos meninos, mas não queria tocar nenhum deles e entrava em pânico com qualquer investida. Achava amor platônico um máximo e lia milhares de livros românticos o tempo inteiro. Talvez isso não tenha feito muito bem pra ela, quem seria capaz de corresponder expectativas tão altas? Mas sempre adorei ir assistir comédias românticas e comer pipoca na casa dela e por nada nesse mundo arriscaria esse prazer dizendo que nada daquilo era real.

Chegamos ao ensino médio e ela era a única a não ter beijado ainda. Não foi por falta de oportunidade, sempre teve meninos lindos querendo ficar com ela e, não sei como, sempre dava a mesma resposta sem nem pestanejar. Pra mim ela era uma incógnita, o resto da classe zombava, mas eu só queria entender e estar perto para o que precisasse. Um dia ela me disse que as pessoas não são coisas e que não deveriam ser usadas, disse que o beijo deveria ser um sinal de sentimento e que até agora não sentia nem amor e nem confiança em ninguém.

Entramos na faculdade e a minha vida tinha virado festas e curtição enquanto a dela continuou praticamente a mesma coisa. Talvez por causa do bullying que sofreu na escola e o complexo de patinho feio que com certeza tinha, não tenham permitido que se desse conta do quanto era bonita e legal. Por isso, não permitia que as pessoas se aproximasse e continuava com os mesmos pensamentos de contos de fadas.

Eu a amo como a uma irmã e sempre quis que vivesse mais, mas não importava o que eu dissesse, ela não conseguia se relacionar nem com homens e nem com mulheres. Houve o tempo em que ela sentiu muita vontade de ficar com alguns, mas a religião dela impediu. “Ele usa drogas, não posso ficar” era o que ela me dizia, mas naquela altura todos nós usávamos drogas, menos ela.

Aos 25 eu estava no meu segundo relacionamento sério e ela finalmente me ligou contando que havia beijado um cara. Fiquei feliz por alguns segundos, mas logo minha alegria passou à medida que me contava quem era o cara e como foi que rolou. É normal odiar o primeiro beijo, mas o dela tinha que ser traumático? Já sabia que depois disso não teríamos novas evoluções tão cedo, mas como sempre ela me surpreendeu.

Depois de muito chorar ela decidiu se juntar a um grupo chamado “Eu Escolhi Esperar”, não é como se fosse um grande desafio, posso dizer com tranquilidade que ela poderia ter fundado esse grupo se tivesse pensado um pouco mais rápido e poderia ser líder do primeiro bonde da abstinência do Brasil.

Mas amigos, eu não estava convencida. Não é sobre mim e blá blá blá, mas como uma garota tão legal não poderia desfrutar da sua juventude? No seu aniversário de 27 anos dei de presente um pequeno vibrador, aparência amigável e delicada, nada de assustador. Depois de muito gritar comigo e ficarmos 3 semanas sem nos comunicar, ela me ligou dizendo que tinha lido na internet como usar e experimentou. Uffa! Sinto que cumpri a minha missão de melhor amiga do mundo. Tudo bem não se relacionar, mas não conhecer um orgasmo, aí já é demais! Infelizmente ela me disse que só usou uma vez, espero que seja mentira.

Hoje é o aniversário de 30 anos da Lorena e nada mudou. Tenho a melhor amiga mais rara do mundo! Conheço a última virgem, gata, inteligente e bem sucedida que tem 30 anos de idade.

Sou a única pessoa fora da família dela com a qual ela fala abertamente sobre isso, para o resto do mundo a Lorena parece mais escolada e descolada do que eu. A garota sabe até nome de diretores de filme pornô e pode tirar milhares de dúvidas práticas de gente que transa desde os 13. Ela me diz que aprendeu a falar assim para sobreviver. Por exemplo, em um dos seus primeiros empregos longos, as pessoas desconfiavam do seu jeito recatado e ficavam mostrando pornô pra ela e dizendo coisas agressivas na intenção de constranger. Quando ela me contou não pude acreditar, como mulheres poderiam fazer algo assim a outra mulher?

Outro dia conversamos sinceramente sobre o assunto e ela me disse que está em um ponto sem volta, que o tempo passou sem que percebesse e que agora era muito mais complicado ter que lidar com isso. Quem acreditaria que ela é virgem? E como se relacionaria com alguém que não fosse capaz de acreditar nisso? Contou que nunca se apaixonou ou encontrou alguém que realmente tivesse vontade, oportunidade e confiança. Sair com alguém sem intenção de transar, hoje em dia, exige muitos malabarismos que transformam qualquer cara em um chato! “Por que sou obrigada a ficar me magoando por algo que nem me incomoda tanto assim?”

Disse que está tudo bem e que me incomodo com isso muito mais que ela.

Ela tem razão. Minha amiga é mais madura e bem resolvida que eu.