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O problema sou eu, mas a solução também.

O problema sou eu, sempre foi.
Mas a solução também sou eu, sempre foi.

Existe essa ferida gigante que não sei bem quando começou que me impede de não ser tóxica para os níveis de proximidade mais intensos.

Cada melhor amigo, cada quase namorado, cada chefe que tentou ser mentor...

Não há nada que eu possa fazer para mudar o passado, ou recompensar todas as pessoas que eu feri e perdi pelo caminho enquanto ruminava a minha própria dor.

Eu sinto falta de cada uma delas, eu me arrependo de n ter sido melhor, mas a grande coisa é que eu dei o que eu tinha e infelizmente, eu não tinha quase nada de bom pra oferecer.

Eu não me entendia, não entendia as minhas dores, não entendia como acabava ferindo os outros e como era a intensidade da minha violência.

Não posso voltar ao passado, não adianta desejar ser mais doce ou diferente do que é a minha natureza isso só vai me afundar em mim.

O que funciona é olhar para trás e ser capaz de reconhecer a minha própria evolução e olhar para frente de forma objetiva entendendo que é um processo e que a cada volta no ciclo vicioso a gente vai sendo melhor que antes e tentando não cometer os mesmos erros e vencer o carro desgovernado que a gente é.

Cada volta é a proximidade com a saída.

Chorar por ser esse carro ter sido desgovernado por tanto tempo não nos ajuda em nada. Nós somos potentes, somos ferozes, nós podemos conquistar inclusive o controle da nossa fúria e fazer o que é necessário pra continuar vencendo.

Quanto a solidão, essa é necessária pela forma do processo.

O que não te mata, pode te tornar tóxica.

 



A vida parecia ótima, tudo estava sob controle e as coisas finalmente começaram a acontecer profissionalmente. Mas como um daqueles plot twists irritantes conheci uma pessoa que me ofereceu muito do que posso chamar de “tough love”.

Ele gostava de se imaginar como um mentor ou algo assim, mas a verdade é que na atitude dele tinha um misto de “você é brilhante” com “sou muito melhor que você” bem no estilo Whiplash. Até hoje fico confusa se odeio aquele professor ou se o considero levemente.

Poderia passar horas falando sobre esse personagem importante que jogou verdades duras na minha cara, mas esse texto não é sobre ele, é sobre como um soco bem dado me fez acordar para algumas coisas necessárias. A verdade é que sempre me orgulhei de ser “mais eu” e isso quer dizer que:


1 — Tenho opiniões fortes e sempre tive coragem de bancar todas elas.

2 — Tenho força e coragem o suficiente para ir atrás do que eu quero e ter 75% de aproveitamento em todos os sonhos que já tive.

3 — Não sou obrigada a nada e exijo respeito, talvez de uma forma mais dura que o normal.


Esse sistema me colocou em muitos problemas. O mundo é masculino e esse tipo de postura não teria como ser mais incômoda em ambientes que desejam tanto que mulheres sejam educadas, resignadas e que me perguntou tantas vezes “quem você pensa que é?”

Devo dizer que mesmo sem ter nenhum centavo no bolso, perspectivas limitadas e ninguém que pudesse cobrir minhas dívidas caso tudo desse errado, ser “lembrada” que sou negra, pobre, burra ou feia me limitou por muito tempo até que todas essas palavras virassem parte de mim e me dessem força para pisar duro.

Uma postura arrogante não te faz ser a pessoa mais querida do mundo, mas a confiança e a coragem fazem você trazer alguns prêmios para casa.

Depois de ser ameaçada de estupro em tom de brincadeira no meio de uma sala cheia de gente e depois de reagir ao assédio, ser excluída das redes sociais de todos os homens da agência ou depois de ter a mão de um chefe descansando na minha bunda por mais de 3 minutos em uma situação de completa vulnerabilidade que até hoje me causa calafrios, eu comecei a tolerar muitooo menos.

Intensa no trabalho, distante nas relações. Metida e insuportável alguns poderiam dizer. Uns por inveja e outros porque somente quiseram a chance de me conhecer um pouco, quando eu não estava disponível para isso. E é aí onde quero chegar. O mundo pode ser cruel o suficiente com a gente para nos tornar cruéis com os outros e isso é péssimo para o maior objetivo de todo mundo…ser feliz.

Claro que temos o direito de nos sentirmos bravos, claro que todos esses acontecimentos e todos os outros que não caberiam neste texto se tornam parte de quem sou. Afinal, são as quedas que formam o nosso caráter. Mas quando a sua força é um substrato de ser tão pisado, você pode acabar perdendo algumas noções importantes como:

1 — Você é mais forte que a maioria das pessoas. Um soco seu pode ser devastador para alguns.

É como ter um super poder, insurgir de tanta dor te ensina a ser mordaz o tempo todo e esse é um dom incrível, mas você precisa aprender a usar no momento certo, pelo motivo certo e com as pessoas que realmente merecem.

2 — Você aguenta mais do que a maioria das pessoas.

Isso pode te fazer perder a mão para identificar situações que são mais desconfortáveis do que deveriam ser, e estipular limites que te salvem de relações tóxicas independente da natureza.

Também pode te fazer mais cruel e exigente com a pessoa que você mais deveria amar em todo esse mundo. Você mesma.

E de brinde, ainda cria expectativas irreais sobre outras pessoas que nem de longe conseguem ser o quem você é.

3 — Você deixou que pessoas ruins determinem o tipo de pessoa que você é ou será.

Acreditem em mim, eu sei que o raciocínio é não passar por mais nada daquilo, eu sei que você só quer se defender porque prevenir é sempre melhor que remediar.

Mas olhe para você e se analise de uma forma sincera.

Será que suas atitudes, seu tom e a forma que reage a tudo não são somente as vozes dos seus algozes reverberando na sua? Reflita com carinho.

Você quer mesmo que aquele bando de fdp que passaram pelo seu caminho e que lhe causaram tanta dor, sejam aqueles que determinam a forma que você lida com suas próximas relações?


A minha proposta é para que conheça e reconheça a sua história. Terapia, entender como o seu cérebro funciona com algumas doses livros de psicanálise, muitoooo tempo com você mesma e com pessoas que gostem de você o suficiente para falar verdades duras com carinho.

Eu sei que revisitar tudo isso pode ser muito doloroso, vai ser bizarro, mas o autoconhecimento que esse processo traz, vai te permitir ir muito mais longe.

Um passo para trás, na capoeira, é golpe.

 Às vezes, por mais que a nossa maior vontade seja acelerar e conquistar tudo o que a gente sonhou de uma vez só. Reduzir a velocidade, ser mais estratégico, descansar e ganhar distância é extremamente necessário para que, no momento certo, você continue seguindo em frente, bem e inteiro.


Essa rede é feita para compartilhar aprendizados, e foi exatamente isso que vim fazer com esse texto. Compartilhar a importância de reconhecer quando a gente não está pronto para um desafio, mesmo quando nos esticamos ao máximo para caber.

“Nunca tentado. Nunca falhado. Não importa. Tentar de novo. Falhar de novo. Falhar melhor.” Samuel Beckett

Não é novidade que ninguém nasce sabendo, mas teimamos em nos enganar acreditando que somos dom natural. Não somos…e por mais que você acredite estar pronto, ainda haverão pontos cegos pelo caminho. Eles sempre vão existir, assim como todas as adversidades que o mundo nos reserva. O que muda é a forma que aprende a lidar com eles, falo sobre isso nesse texto aqui.

Dependendo de quão enrolado você esteja na situação, a sua cabeça pode estar praticamente enfiada dentro d’água. Parece ser impossível trocar o pneu com o carro em movimento e quando os seus pontos fracos começam a ganhar a batalha, dói.

Dói por não saber resolver, dói por perceber que o problema é você, dói porque crescer é doloroso mesmo e a angústia difusa da inadequação é bizarra.

Quanto maior for o seu ego, maior é a dor de se perceber insuficiente e de ser derrotado por você mesmo. Mas se lhe servir de consolo, nenhuma jornada do herói acontece sem um momento de quase derrota.

síndrome de Gabriela não tem vez aqui.

Um bom exercício é olhar para seus relacionamentos terminados e perceber quantos erros cometeu por imaturidade ou por estar em uma frequência diferente da pessoa que você poderia até gostar.

Você estava imerso no relacionamento, culpando o outro e sentindo a dor de algo quebrado. Por mais que seja resiliente e se mantenha por mais tempo, será muito difícil conseguir a clareza necessária para entender o que pode e deve ser melhorado no seu próprio comportamento e no do outro. A distância é um santo remédio!

Mas quando isso implica na sua carreira? Parece ser muito mais difícil estar disposto a dar esse passo atrás, né? Tem carinha de burrice, é desconfortável no começo, mas pode acreditar…Te entrega um poder digno do meme do mind blowing. Respirar e processar as informações no seu tempo faz tudo entrar no eixo.

Isso não quer dizer que só porque agora finalmente as coisas fazem sentido, você está pronto para meter o pé no acelerador novamente. Mano…respira! Aprende a aproveitar a jornada. Tudo nessa vida tem consequências e a menor delas é demorar mais tempo para um próximo passo, mas lembre, trabalhar em você mesmo é uma constante que independe do cenário.

Evoluir, principalmente em habilidades que não são técnicas, não acontece do dia pra noite, demanda tempo, dedicação e paciência.

Abrace e aceite o processo, se comprometa com a jornada e seja o melhor que conseguir ser, cada dia um pouco mais.

Pessoalmente gostaria muito de agradecer a @conquer, a @aerolito e ao Emanuel Aragão por serem tão protagonistas nesse momento. Eles possuem cursos incríveis que mostram que antes de qualquer coisa, todo mundo precisa aprender a ser gente.

Desromantização da resiliência e a dor do crescimento.

Quando você descobre ser nada, você pode ser tudo.


 Não consigo dizer de quem é essa frase e peço perdão por isso. Graças a ela, hoje me sinto inspirada o suficiente para trazer esta e outras reflexões que podem ser úteis, ou não (risos) para a sua jornada.

Bem…É esperado que em algumas fases da vida a gente encontre obstáculos difíceis e transformadores. Falando a um grosso (e raso) modo. Ter a capacidade de se deparar com esses obstáculos e conseguir contorná-los é o que o mercado chama de resiliência. Não se abalar por esses empecilhos e ainda extrair conhecimento desses obstáculos com potencial estressante é o que chamam de antifrágil.

Tem muito de personalidade, mas tudo pode ser desenvolvido com o tempo. Enquanto um tem um modelo de crescimento reativo, precisa bater cabeça e se apega a coisas que dificultam a sua passagem pelos desafios, o antifrágil já se moldou para passar pelo mundo com mais fluidez e desapego por ter certeza de quem é. As raízes dele não são externas.

“Os analfabetos do século XXI não serão aqueles que não sabem ler, mas aqueles que não podem aprender, desaprender e reaprender.” Alvin Toffler

O mundo é um caos, galera! E isso não vai mudar porque é mais quentinho permanecer no mesmo lugar. Se antes o clima era VUCA, agora ele é BANI , os estresses e a falta de conhecimento do que vem depois fazem parte do que é estar vivo hoje.

Admiro muito a habilidade dos antifrágeis, mas apesar de começar com uma frase que contempla a tribo dos inabaláveis, esse é um texto feito para quem ainda sofre e entende que sofrer faz parte do processo, mas é chato para caramba!

Por hoje quero seguir com duas premissas.

1 — Não existe crescimento significativo sem alguma dor.

2 — A maturidade não vem sem o enfrentamento de problemas.

Os nossos maiores ganhos como humanidade vêm dos momentos de escassez e aí o alvo dessa escassez pode ser imensamente amplo. Talvez seja escassez de amor, de dinheiro, de reconhecimento ou, para complicar a nossa conversa, escassez de autoconhecimento.

Voltando ao momento em que o resiliente sofre e às vezes se quebra para ter a chance de ressurgir (talvez) mais forte, é importante que a gente examine o alvo dessa dor. Sim, porque ela é originada de alguma mudança que causou escassez e trouxe junto estresse, ansiedade, dor e sofrimento que como disse antes. É chato para caramba!

A esse gap entre a perda de algo e a sua ressignificação, gosto de chamar de período de luto. O luto é a dor da perda e um ambiente fértil para milhares de desdobramentos psicológicos que podem ter sido originados desde a saudade de uma casa antiga, a temas mais espinhosos como a perda da autoimagem.

Amigos, eu não tenho a resposta para como sair do formato reativo para entrar para o formato antifrágil rapidamente. Esse é um trabalho gradativo que começa com a Monja Coen falando sobre desapego e termina na frase que começou esse texto.

É um trajeto doloroso de desconstrução necessário para que as pequenas dores do dia a dia sejam realmente pequenas e capazes de te ensinar coisas. É como ir todos os dias à academia se provocar dores benéficas para que dores maléficas não sejam mais capazes de te destruir. Nesse caso a academia é você e o único músculo afetado é o cérebro.

Quanto mais próximo estiver de si mesmo e realmente entender que nada externo faz você ser o que é, os pontos de luto serão cada vez menores e com o tempo a noção real do que é “ser nada” ou do que é “be like water” vai chegar com mais conforto diante do caos constante que o mundo se tornou.

Podemos contar também com o fato que se o caos é o novo normal, a adaptação é o caminho natural.

Boa sorte na sua jornada!

[Rolê do quase 30] Mandando cartas para o futuro

Esse texto contém uma visão levemente pessimista motivada pela entidade do trampo ruim+ TPM que nesse momento habita em mim. Ele é contra indicado para pessoas extremamente bem sucedidas antes do 25 e para herdeiros.

Todo mundo diz que idade não importa, mas o motivo para que todos afirmem isso com tanta paixão é terem passado muito tempo elaborando formas de refutar tudo aquilo que pensavam e diziam sobre pessoas com 30 anos quando tinham somente 18. Claro que idade importa para um monte de coisas! Particularmente para as mulheres existem fatores que fazem o número que vem depois do mês contar ainda mais, se não como motivador de tristeza e ansiedade, como fator de lembrança e demarcação.

É uma delícia estar no mundo moderno e poder dizer abertamente que não quer ter filhos, um pouco controverso, mas totalmente aceitável. No entanto, é completamente diferente quando a opção de não ter crianças sai da sua mão e vai para a mão da Biologia. Ela costuma ser bem grosseira, olha para sua cara e dá uma grande gargalhada de escárnio diante dos seus 35 anos. Não querer é bem diferente de não poder. Para a gente que um dia morreu de medo de engravidar precocemente e acabar entrando para as estatísticas, agora se pegar pensando na possibilidade de nunca engravidar com certa melancolia é assustador. 

Na minha família, felizmente ou não, as mulheres costumam engravidar até mesmo com 40, mas não é exatamente esse o ponto dessa conversa e sim a sensação que o relógio está correndo e que você perdeu a hora. Homens, não se atenham a esse ponto! Não sejam bobos!

Todo mundo faz planos, algumas pessoas mais que outras, mas sem exceções todo mundo tem sonhos e desejos que cultivavam desde os tempos da escola. Lá tudo parecia ser possível se você se esforçasse o suficiente para isso. Disseram que você poderia fazer e ser tudo que desejasse e você acreditou. Ok. Bateu trinta, você tentou e tentou sem obter sucesso algum e a sensação de que agora você tem que parar de tentar é uma força quase cósmica que invade a alma com um Parabéns Para Você.  Tem que parar mesmo? Não sei, mas para quase todo mundo é agora que morre o sonho e nasce a frustração.

Nem tudo é tristeza e esse limbo do “estou jovem para ser velha e velha para ser jovem” deve ter no mínimo muitas aventuras escondidas em meio ao caos psicológico de quem deseja se manter emocionalmente sob controle enquanto vê que o mundo andou sem você. Dramático? Sim! Se não fosse não teria graça.

Já ouviu falar que a nossa geração fez o favor de esticar a adolescência? O período mais merda da vida ganhou anos de brinde, simplesmente porque a gente não está sabendo direito como amadurecer. Se eu fosse comparar em tom de competição a minha vida com a vida da minha mãe quando tinha a mesma idade eu, teria aí uma série de motivos para chorar por uma perda esmagadora. Ao invés de criarmos asas, viramos cangurus e por incrível que pareça, toda a velocidade e do nosso dia a dia deixou as coisas mais básicas ainda mais lentas para a maioria de nós.

Existe um site chamado Future Me que te permite escrever e-mails que serão enviados em datas futuras e deixa a sensação de cápsula do tempo. Já havia escrito um e-mail há 3 anos que recebi recentemente e me deu uma sensação muito louca de estar falando comigo mesmo, porém deixando evidente o quanto mudei. Essa experiência daria assunto suficiente para um texto específico e vou pensar bastante nessa possibilidade.

Bem...escolhi mandar um e-mail de apoio, carinho e admiração para mim mesma no dia do meu aniversário de 30 anos. Pelo que me conheço vou precisar de todo suporte do mundo para passar por essa data, onde já chequei e sei que estarei de TPM.  Fui gentil comigo e tentei simular um daqueles episódios de sitcom do tipo em que vem uma pessoa do futuro alertar sobre as coisas que você não deveria fazer. Usei todo o meu poder de vidente para me presentear com uma coisa especial que levantará o meu humor em um dia que deveria ser tão feliz. PQP! Serei oficialmente adulta somente pela força do tempo e sem nenhuma prova material ou econômica disso! 

Parabéns para mim! SERÁ?
Não sei, mas com certeza virão muitas aventuras e pensamentos que me farão alimentar esse blog como nunca antes na história dessa URL.

O final de um ciclo! A web diva morreu.


O computador e a internet chegaram bem tarde para mim. Ganhei o meu primeiro PC em 2008 e nesse mesmo ano descobri um universo maravilho que ressignificou a minha vida. Lógico que antes ia muito a lan houses, mas não é a mesma coisa nem de longe. Quando o mundo digital entrou na minha casa não havia mais dia ou noite e acima de tudo, não havia mais solidão.

Nunca fui das pessoas mais sociáveis, mas sempre tive amigos e grupos com os quais costumava andar e compartilhar coisas da vida. Eram amizades de escola e faculdade que poderiam atravessar os anos ou não. Depois que a internet chegou acabei me trancando no mundo digital e aprendendo a me expressar de outras formas que me tornaram próximas de pessoas que viviam a quilômetros de distância e absurdamente mais distante das que estavam do meu lado.  Acomodei com as relações intensas, porém confortáveis, que desenvolvia através da tela e não me interessava mais pelos olhos, toque ou manter por perto pessoas que conhecia no dia a dia. Perdi todos os amigos daquela época, eram poucos, mas tinha rs

Ontem depois de 10 anos tive um momento de iluminação e resolvi repensar tudo o que tenho feito até agora, me foquei em tirar lições de cada acontecimento vivido de lá pra cá e posso dizer com tranquilidade que enterrei os meus 20 e poucos anos na tela de um computador. Sinto que agora chegou o momento de crescer e conhecer outros universos que podem ser tanto ou mais acolhedores quanto o digital foi no momento em que mais precisava. Sair do meu quarto, ver shows pessoalmente, praticar atividades externas...as possibilidades são inúmeras.

São incontáveis os amigos que fiz, as histórias que vivi e as coisas que aprendi com cada pessoa que encontrei por esses caminhos tortuosos da web.  Todas as relações que tive foram intensas e reais de jeitos muito especiais. Cada amor era de um jeito e cada paixão que senti me fez um pouco mais a mulher que sou hoje.

Esse é claramente o texto de uma nerd solteirona que só sabia rir, pertencer a uma comunidade e namorar pela internet. Essa é uma parte de mim que vou manter guardada com muitooo carinho e gratidão, mas que por mais que tentasse evitar, morreu.  Essa pessoa de 10 anos atrás, que chegou aqui sempre saber o que encontrar, já não existe mais e as coisas que a faziam feliz, já não servem mais para mim.
Como será a vida pós-web-life?

Primeiramente, me sobrará mais tempo para ler livros e escrever. Sei disso porque já cortei o computador por um tempo e foi exatamente isso que fiz.

Em segundo lugar, não me sobrará opção a não ser dar oportunidade para que as pessoas que estão a minha volta façam parte da minha vida e contribuam de forma real para o meu dia a dia e essa é a parte só não é mais difícil que o tópico: “talvez deixar de ser uma solteirona”. Se apaixonar olhando no olho!? Quem faz isso? kkk

Sempre falei sobre solitude por ser uma coisa em que realmente acredito e busco desenvolver um pouco mais todos os dias, mas a vida não é somente amar-se e entender- se. O mundo não começa e termina na gente e cada um tem o potencial de ser o epicentro de algo muito bacana que impacte outros seres humanos de forma real e benéfica. O Dr. Martin Luther King tinha esse modelo que amo revisitar e que só agora me predispus a executar.



Vamos redescobrir o mundo, coleguinhas!

Somos todos Pinocchios?

O que é verdade? Qual a sua verdade?
Todos os dias nós temos o dever moral de dividir as nossas verdades com outras pessoas em conversas triviais ou em conversas mais profundas que demandam empatia e prometem conexões. Porém, tem um ponto pouco questionado por parecer sempre uma troca muito automática entre pessoas que se querem bem, pessoas que não se importam ou entre as que desejam o mal uma a outra silenciosamente e que negariam até a morte se fosse necessário. Por que você deve a verdade a todas as pessoas que passam na sua vida?

Não estou falando em ser um mentiroso compulsivo, mas sim sobre a relevância em dividir a sua vida e as coisas em que você verdadeiramente acredita ao escrutínio público. Quem merece as suas verdades?Você precisa e realmente quer saber como as OUTRAS pessoas se sentem em relação as questões DA SUA VIDA?

Vamos supor que você minta e mascare quem você é de verdade debaixo de uma sombra de ilusão que no fim irá sempre te deixar sozinho, porém sempre um passo a frente de qualquer pessoa que quiser te magoar, te ferir e criar dores futuras que podem ser irremediáveis.
Quase todo mundo consegue fazer isso com o carinha aleatório da balada, mas e no dia a dia com pessoas que você pouco que se importa? Quão ilícito é mascarar-se por baixo de mentiras? Será que você está fazendo isso para se preservar de invasores ou para agradar e se misturar com mais facilidade? Talvez você esteja fazendo os dois e isso não é grande coisa. Ou é?

Quando você vai para o trabalho e deixa os seus problemas atrás da porta. Sorri para todos como se estivesse tudo bem, diz para o seu chefe que a ideia dele é maravilhosa mesmo sendo uma bosta, come a comida favorita da equipe somente para ser cortês e compra um presente legal para o aniversário do chefe que você odeia. Tudo isso não é só um personagem? Tudo isso não é uma grande mentira? Você e eu sabemos que aquela pessoa excessivamente divertida não existe ou que aquela pessoa calma e dócil, na verdade tem uma ulcera gigante causada por tanto engolir os seus próprios sentimentos.

Por que esse tipo de mentira é socialmente aceita e estimulada, quando outros tipos são execrados e encarados com espanto moralista?

Esse é o principio de um texto onde pretendo desenvolver grande parte dessas reflexões, por enquanto vá questionando o quanto você é real e o quanto você é somente uma mentira que não se deu conta que está contando.



[About Lorena] A amiga mais rara do mundo.


A gente se conhece desde o ensino fundamental, a Lorena é sem dúvida a minha amiga mais antiga e a mais diferente. Ela não era a mais feia e nem a mais bonita, mas sempre foi uma das mais espertas, divertidas e antenadas. Quando estávamos crescendo todo mundo tinha um garoto de quem gostava e ela também tinha, a diferença é que de um ano para o outro nunca mudava o alvo da paixonite e que ela nunca se aproximava de ninguém.

O tempo foi passando e cogitamos que fosse assexuada, sempre gostou dos meninos, mas não queria tocar nenhum deles e entrava em pânico com qualquer investida. Achava amor platônico um máximo e lia milhares de livros românticos o tempo inteiro. Talvez isso não tenha feito muito bem pra ela, quem seria capaz de corresponder expectativas tão altas? Mas sempre adorei ir assistir comédias românticas e comer pipoca na casa dela e por nada nesse mundo arriscaria esse prazer dizendo que nada daquilo era real.

Chegamos ao ensino médio e ela era a única a não ter beijado ainda. Não foi por falta de oportunidade, sempre teve meninos lindos querendo ficar com ela e, não sei como, sempre dava a mesma resposta sem nem pestanejar. Pra mim ela era uma incógnita, o resto da classe zombava, mas eu só queria entender e estar perto para o que precisasse. Um dia ela me disse que as pessoas não são coisas e que não deveriam ser usadas, disse que o beijo deveria ser um sinal de sentimento e que até agora não sentia nem amor e nem confiança em ninguém.

Entramos na faculdade e a minha vida tinha virado festas e curtição enquanto a dela continuou praticamente a mesma coisa. Talvez por causa do bullying que sofreu na escola e o complexo de patinho feio que com certeza tinha, não tenham permitido que se desse conta do quanto era bonita e legal. Por isso, não permitia que as pessoas se aproximasse e continuava com os mesmos pensamentos de contos de fadas.

Eu a amo como a uma irmã e sempre quis que vivesse mais, mas não importava o que eu dissesse, ela não conseguia se relacionar nem com homens e nem com mulheres. Houve o tempo em que ela sentiu muita vontade de ficar com alguns, mas a religião dela impediu. “Ele usa drogas, não posso ficar” era o que ela me dizia, mas naquela altura todos nós usávamos drogas, menos ela.

Aos 25 eu estava no meu segundo relacionamento sério e ela finalmente me ligou contando que havia beijado um cara. Fiquei feliz por alguns segundos, mas logo minha alegria passou à medida que me contava quem era o cara e como foi que rolou. É normal odiar o primeiro beijo, mas o dela tinha que ser traumático? Já sabia que depois disso não teríamos novas evoluções tão cedo, mas como sempre ela me surpreendeu.

Depois de muito chorar ela decidiu se juntar a um grupo chamado “Eu Escolhi Esperar”, não é como se fosse um grande desafio, posso dizer com tranquilidade que ela poderia ter fundado esse grupo se tivesse pensado um pouco mais rápido e poderia ser líder do primeiro bonde da abstinência do Brasil.

Mas amigos, eu não estava convencida. Não é sobre mim e blá blá blá, mas como uma garota tão legal não poderia desfrutar da sua juventude? No seu aniversário de 27 anos dei de presente um pequeno vibrador, aparência amigável e delicada, nada de assustador. Depois de muito gritar comigo e ficarmos 3 semanas sem nos comunicar, ela me ligou dizendo que tinha lido na internet como usar e experimentou. Uffa! Sinto que cumpri a minha missão de melhor amiga do mundo. Tudo bem não se relacionar, mas não conhecer um orgasmo, aí já é demais! Infelizmente ela me disse que só usou uma vez, espero que seja mentira.

Hoje é o aniversário de 30 anos da Lorena e nada mudou. Tenho a melhor amiga mais rara do mundo! Conheço a última virgem, gata, inteligente e bem sucedida que tem 30 anos de idade.

Sou a única pessoa fora da família dela com a qual ela fala abertamente sobre isso, para o resto do mundo a Lorena parece mais escolada e descolada do que eu. A garota sabe até nome de diretores de filme pornô e pode tirar milhares de dúvidas práticas de gente que transa desde os 13. Ela me diz que aprendeu a falar assim para sobreviver. Por exemplo, em um dos seus primeiros empregos longos, as pessoas desconfiavam do seu jeito recatado e ficavam mostrando pornô pra ela e dizendo coisas agressivas na intenção de constranger. Quando ela me contou não pude acreditar, como mulheres poderiam fazer algo assim a outra mulher?

Outro dia conversamos sinceramente sobre o assunto e ela me disse que está em um ponto sem volta, que o tempo passou sem que percebesse e que agora era muito mais complicado ter que lidar com isso. Quem acreditaria que ela é virgem? E como se relacionaria com alguém que não fosse capaz de acreditar nisso? Contou que nunca se apaixonou ou encontrou alguém que realmente tivesse vontade, oportunidade e confiança. Sair com alguém sem intenção de transar, hoje em dia, exige muitos malabarismos que transformam qualquer cara em um chato! “Por que sou obrigada a ficar me magoando por algo que nem me incomoda tanto assim?”

Disse que está tudo bem e que me incomodo com isso muito mais que ela.

Ela tem razão. Minha amiga é mais madura e bem resolvida que eu.

Segunda opinião

Simplesmente elucubrar
Transcender em aleatoriedades
Superar a lista da feira
Refletir o que ninguém projetou.

Que delícia navegar nos pensamentos.
Mergulhar em águas profundas.
Se deleitar com as miudezas da vida
que quando em companhia
transforma marolas e ondas do Havaí

Que curvas fantásticas sou capaz de fazer contigo?
Me pergunto sempre que não está presente.
Por que a Sandy mora no fundo do mar?
Quem quer saber? Nós!
Por que o The Killers não faz sentido, mas é tão intenso?
Quem liga? A gente!

Que dupla em pouco tempo nos tornamos?
Eu tão amante da introspecção
Fascino-me todos os dias por um mesmo humano.
E que grande humano você é...
Obrigada por aparecer quando não havia nada.

Não sei fazer poemas
mas o seu coração me inspirou
e esse poema nasceu sozinho
só pra você.



Charles Bukowski, o herói dos idiotas.


É bem comum ver pessoas postando frases e idolatrando um cara que talvez não merecesse toda essa santificação e que não sou escrota o suficiente para dizer que nunca compartilhei desse fascínio ou que nunca dei share em uma das frases impactantes dele. Afinal de contas, ele era um gênio ousado que não se importou com a opinião dos outros. Não é isso o que todo mundo quer ser?
Bem...diferente da maioria que se contenta em ler somente alguns poemas e quotes, a minha atitude foi admirar, procurar saber mais sobre e pegar livros para ler. Óbvio que ler 3 livros do cara não me faz uma especialista, mas me dá muito mais conhecimento que grande parte da galera que jura devoção a um homem que só conhece de nome. Por isso costumo dizer que existem 3 tipo de idiotas apaixonados pelo Charles.
  1.    Que conhece só a fama de velho tarado e compartilha as frases porque acha que parece cult, profundo ou descolado.
  2.    O que leu e se identificou por razões que podem ser complexas demais para esse texto.
  3.     Os que leram somente poesias soltas ou obras menos significativas e não entraram em contato com informações extras que fazem as histórias se encaixarem.

Mas têm aqueles (não idiotas) que amam o escritor puramente pela obra e seu valor literário disruptivo que faz o leitor se confrontar com escatologias, violências e o perfeito perfil do anti-herói que contrapõe todo o sonho americano. O amam por sua escrita “atropelada” e direta que segue a levada do movimento Beatnik que revolucionou lindamente a forma de fazer literatura durante os anos 50/60.

Mas Jés, por que você odeia tanto esse cara?

Primeiramente é bom dizer que eu não o odeio, acho um ótimo escritor (li 3 livros, estou com o 4 na mão e pretendo ler ao menos 5 obras). Diferente do que a maioria das pessoas pensa, enxergo a história dele como uma vida repleta de tristeza, falta de amor, desilusão e solidão. O meu problema não é com ele e sim com as pessoas que se agarram a ele como uma espécie de amuleto inspirador.
Para ficar mais didática, vou citar 2 motivos pelo qual ele era um cara que não faz sentido ser adorado como um grande guru do lifestyle de ninguém e 1 motivo para ser querido como um escritor incrível que realmente foi.

  1-    Que ele era mulherengo machista, todo mundo sabe. Mas tem mais.

A relação deles com as mulheres não tinha nada de saudável, ser mulherengo não é um problema desde que as mulheres envolvidas saibam que são somente transas. O meu caso aqui não é de pudor e vou contar algumas passagens que me deixaram bem desconfortável.
No primeiro livro ele relata o tempo em que trabalhava como carteiro. O nome do livro é Cartas na Rua e no geral é bem legal e não foge do estilo que perdurou até a sua penúltima obra.  Durante o livro ele sempre fala sobre uma casa que ficava na rota de entregas dele, nessa casa morava uma deficiente já madura que vivia presa e costumava gritar quando ele passava. Gritava coisas sem noção, ela tinha problemas mentais e mexia com ele porque era a única pessoa passando na rua, imagino quanto tempo ela ficava sem falar com ninguém, só trancada ali e ansiosa para ver outras pessoas.
Pois bem, na cabeça já madura do Charles ela estava “enchendo o saco” e merecia uma lição. Um dia ele foi lá, estuprou-a e relatou o silêncio dela como uma espécie de consentimento quando a maioria de nós tem plena ciência que a reação corporal mais comum diante de um estupro é “abandonar o corpo”. Depois disso ele se gaba que nunca mais ela gritou quando ele passava.
Já sendo um escritor famoso no livro intitulado Mulheres ele faz um compilado de histórias de mulheres com as quais se relacionou e entre mil passagens no mínimo nojentas, mas que podem ser consideradas ao menos normais, levando em consideração o estilo de vida que ele costumava levar. Ele conta sobre uma garota que levou para casa e que desmaiou no sofá dele. Na cabeça de Charles se ela foi até lá fumar da maconha dele e beber do álcool dele, ela estava devendo o sexo que ele esperava e mesmo com ela apagada ele transou com ela. (leia-se: estuprou) Gostaria de dizer que essa foi a única vez que ele se aproveitou de uma mulher desacordada e relatou  como um ato normal ou exercício de direito. Mas não foi.
Aqui só relatei (alguns) casos de estupro, mas a forma que ele via as mulheres era extremamente degradante em alguns pontos do livro.
Se erguer a bandeira do feminismo para você significa que continuar consumindo materiais de gente que incentiva a misoginia e corrobora com práticas machistas, compartilhar frases dele é no mínimo contraditório.

  2-    Ele não se achava "foda", porque ele não era mesmo. (Mas o que é ser foda?)

O Charles achava que todo mundo era idiota. Era uma pessoa entediada que não gostava de praticamente ninguém e quando sentia que poderia estar gostando um pouco que seja, sentia tanto medo que fugia como se não houvesse amanhã.  Gostava de dizer que estava indo aos lugares somente pelo sexo, mas em vários momentos deixava claro o incomodo que sentia em estar sozinho com ele mesmo. Vivia bêbado por não ser capaz de suportar a vida se estivesse sóbrio e via o seu comportamento autodestrutivo com a indiferença de quem não se importava em morrer no dia seguinte. Não haveria nada para perder e ninguém para deixar para trás. Tanto fazia.
Ele era viciado em corrida de cavalos, fora o sexo, as apostas era a única coisa que conseguia fazer com que se sentisse um pouco mais vivo e era com isso e drogas que torrava todo o dinheiro que recebia das editoras.
Resumindo.  Uma pessoa cronicamente deslocada que não conseguia se conectar com ninguém, que não tinha força e nem vontade de encarar a vida com sobriedade ou responsabilidade e que sofreu até os últimos dias pela morte da única mulher que considera já ter amado verdadeiramente na vida.
Eu não sei você, mas para mim isso parece uma vida bem triste. A não ser que nos outros livros tenha havido alguma virada brusca de comportamento...isso, e um escritor formidável é tudo que eu tenho.

11 -    Ele fez do Henry Chinaski o que o Charles nunca conseguiu ser.

Através da sua escrita direta e extremamente sincera ele conseguiu trazer para dentro do seu universo sombrio e conturbado milhares de pessoas. A falta de conexão que relatei no tópico anterior foi driblada pela escrita e pela coragem de dizer sem o mínimo de pudor aquilo que ele era sem se importar se haveria criticas ou aplausos. Na verdade foi esse estilo “to nem aí” que redeu para ele a fama que até após a sua morte é louvada.
Se todos os casos contados nos livros aconteceram de verdade ou se foram somente licença poética é impossível saber (mas pelo que ele dizia, parecia verdade) e sendo assim, é praticamente impossível julgá-lo como um ser humano detestável. Por mais que sejamos capazes de imaginar coisas bizarras, só podemos ser condenados por atos realizados de fato (a pornografia deixa essa transcendência bem clara). 
Esse texto pode estar um tanto confuso quanto os meus sentimentos em relação ao autor, porque é exatamente assim que me sinto. Fico oscilando entre a repulsa e a admiração, mas o que realmente quero deixar bem claro, é a minha desconfiança sob essa massa de pessoas com prazeres escatológicos que se lambuzam na degradação dos outros. O público vibra com sofredores, com pessoas que se desfazem aos pedaços diante dos olhos dele enquanto suplicam por ajuda e recebem flashes das fotografias de todo o sangue e lágrimas que jorram copiosamente de seus corpos,  veem seus fragmentos sendo louvados como suvenires e palmas que apoiam a sua caminhada para um fim trágico somente para depois esse mesmo público fingir surpresa quando o fim chega.
Nós surramos e crucificamos pessoas para que possamos fazer delas nossos santos.
Um exemplo? Dou dois!  Temos a Amy Whinehouse e a  Miley quando estava claramente na merda e “todo mundo” ficou triste quando ela voltou para o eixo.

Eu queria muito que as pessoas parassem de romantizar a auto-degradação e a desestabilidade psicológica dos outros, mas se esse hábito acabasse o que sobraria? Ainda haveria algo que pudesse ser chamado de arte?