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Sobre amores digitais e ilusões potencializadas.

Sabe uma daquelas pessoas que você conhece na balada, tem um papo maravilhoso, ri a noite toda e depois simplesmente nunca mais a encontra novamente? E se encontrar será tudo meio estranho e desconfortável, deixando claro que o tempo da relação já expirou e que só devem permanecer as boas memórias. A internet também tem disso e costuma ser muito mais intenso que com o inesquecível do bus, ou o inteligente da biblioteca.

O digital entrega uma coisa que o contato offline jamais poderá proporcionar. Se sentir confortável e seguro conversando com alguém pessoalmente é infinitamente mais difícil que sentando no seu sofá. Sendo assim, está permitido nos abrir para alguém que (se quisermos) pode sair da nossa vida do mesmo jeito que entrou, não há comprometimento, mas muito se engana quem pensa que não há envolvimento.

Essa é a parte mágica de conversar sem olhar nos olhos, você completa os pedaços que estão ausentes com o que você gostaria de ver ali. Imagina sorriso, entonações e preferências que no fim das contas é só imaginação. Você pode estar conversando com alguém que não toma banho há 3 dias e achando que ela deve ser a pessoa mais sensacional que já conheceu. Essa dinâmica é muito rápida e substitui a atração física que faz uma pessoa continuar falando com a outra por mais de 5 minutos em um ambiente cheio de gente disponível.

Os papos profundos e as confissões que no offiline demorariam de 3 a 5 encontros, no online acontecem em somente 3 madrugadas. O elo de confiança e familiaridade surge bem rápido e no lugar do beijo que aconteceria pessoalmente e daria um ponto final ou as reticências da conversa, vêm as expectativas e os sentimentos ilusórios que fazem você ficar verdadeiramente conectado e se empolgar tanto. Logo começa a imaginar caminhar de mãos dadas com ela(e) em um parque florido. Já assistiu Her!? Pois é!

Eu sou nerd, sei do que estou falando e vi essa história acontecer comigo e com meus melhores amigos algumas centenas de vezes. A probabilidade de dar certo depois que rolar o primeiro beijo offline ou a primeira briga online é muito perto de 0. E tomando como exemplo o melhor filme sobre relacionamento de todos os tempos (Ele não está tão afim de você) estamos muito acostumados a acreditar que só porque aconteceu com a prima da vizinha, com certeza irá acontecer com a gente também. Veja bem... poder até pode, tem gente que conhece o cara ideal esquecendo um sapatinho na balada. Não tem?

Amo a internet e as melhores pessoas que conheci foram através dela, mas a sensação de que os humanos mais legais moram longe, é só porque somos fechados demais nas nossas vidas cotidianas e quase nunca estamos dispostos a ouvir o que as outras pessoas têm a dizer, principalmente quando não as achamos atraentes.

Aqui não existe classe social, aparência, trejeitos irritantes ou uma roupa brega. É um campo neutro onde temos o que de mais legal que cada um pode oferecer, que é a forma como percebe o mundo. Se apaixonar por esses aspectos puros é muita ingenuidade. Já pensou quanto tempo demora pensando no que seria melhor escrever?Com certeza é muito mais que o tempo que leva para falar alguma coisa com um copo de cerveja na mão, fora daqui o filtro simplesmente não existe e ele faz total diferença em quem realmente somos.

Resumindo... Somos 100% a nossa melhor versão por aqui e essa pessoa não existe de verdade. Mas sim, tem 1% de chance de continuar gostando do mesmo jeito depois que finalmente a tocar. 1%

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