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[About Ana e o amor] Capítulo 4 - Entre o dia e a noite.

 PARTE 1

Naquele momento o Jota era a estrela principal da vida da Ana. Ela estava realmente envolvida e era impossível determinar como isso era apavorante. Como ela teria parado naquela situação de novo? Por que estava novamente gostando de alguém que não tinha nada para oferecer? Não me refiro a recursos materiais e sim as mil conversas que tiveram na qual se identificaram como meros pixels que não significavam nada e que nem poderiam vir a significar, já que ambos os lados eram inaptos para o “amor” e ainda mais para os do tipo digital. Puro drama. Como um plus a tudo isso, o Jota nutria forte rejeição a uma parte muito importante da vida da Ana que ela preferia manter fora de campo justamente para evitar se magoar permanentemente.

Resumindo, era uma completa cilada! A relação era confusa e em grande parte por culpa dela.

Quando pensava racionalmente a decisão mais assertiva era encerrar aquilo da forma mais sincera e politizada. Estava confusa, ficava triste com frequência e todo aquele ar de “não correspondido” fez ela se tornar uma pessoa carente e irritadiça. Não era uma posição que ela quisesse estar, ninguém quer ser aquele que o outro vê somente porque não está fazendo nada. Por muitas vezes ela insinuou seus sentimentos e vez após outra foi sutilmente ridicularizada. Ela não merecia e nem estava preparada para passar por isso novamente. No entanto, quando o responsável pelas as suas ações era a emoção, costumava quebrar as regras que criara e se contentava com o pouco que ele a oferecia. Por incrível que pareça ela ficava muito feliz momentaneamente.

Com o Carlos era tudo bem diferente, mesmo com os beijos presenciais, depois que ele viajou, inicialmente a relação não guardou nenhum peso ou tensão. Eram amigos que se colocavam à disposição tanto para as pontuações mais simples do dia a dia, quanto para as mais complexas que demandavam suporte emocional.
Exemplo 1:
- Você gosta de shiitake? - Ele perguntou
- Ahhh...amo! Pq? – Ela disse.
- Morra de inveja, to comendo agora! – Ele brincou mandando uma foto de um prato oriental repleto de shiitake.
Exemplo2:
- A cara, meu chefe é muito otário! – Ela desabafou.
- Relaxa que tudo sempre dá certo! –
- Como você pode saber? –
- Porque eu conheço você. – Disse Carlos.      
                                         
Praticamente não havia complexidade. Os sorrisos eram tirados com facilidade e apesar de se conhecerem há pouco tempo, já sabiam muito sobre suas famílias, histórias de vida, amores prévios e dia a dia. Depois de muito compartilharem fotos do almoço, vídeos do ambiente de trabalho e áudios sobre o quanto se gostavam, eles resolveram se afastar.  Não sabiam se havia futuro ali e poderiam estar desprezando oportunidades locais para se debruçarem em alguém que estava muito distante para se tornar algo “real”.  Esse foi um pedido dele que ela acatou. 

Pausaram a comunicação, exceto pelas mensagens matutinas falando de notícias do dia anterior e desejando boas vibes para o dia seguinte, mas depois de um tempo até isso acabou.

Foi aí que depois de um período longo sem se falar, ela voltou a “perseguir” o Jota que disse - Você deve estar muito entediada para estar falando assim comigo. – e ela respondeu-o um pouco chocada com a afirmação, mas se fazendo de fria – Não mentiu

PARTE 2

O tempo passou e entre idas e vindas eles tiveram uma conexão diferente que a deixou especialmente abalada o dia inteiro. Aquela madrugada tinha sido na companhia exclusiva do Jota onde trocaram áudios inofensivos com efeitos arrebatadores para ela, depois de conversarem de 3h às 5h da manhã ela mal dormiu e já foi trabalhar.  Ana não sabia que alguém poderia sentir-se excitada o dia inteiro e entre risos espontâneos durante o trabalho foi vivendo tranquilamente mais nas nuvens que na terra.  Ao meio dia ela teve uma surpresa.  Depois de quase um mês sem se falarem dignamente o Carlos mandou uma mensagem dizendo – Estou aqui te esperando. Vamos almoçar juntos!

A surpresa dela não tinha muita relação com felicidade, estava sim feliz em revê-lo, mas entre as suas pernas havia lembranças constantes de outra pessoa. Quão maluco esse raciocínio poderia ser? Respirou fundo, se convenceu que uma coisa não tinha absolutamente nada com a outra e desceu ao encontro de Carlos que estava mais lindo que nunca. Ela sempre foi apaixonada por homens de cabelo grande e parecia que havia dado sorte, além de lindos, os cabelos dele tinham mechas brancas. Não poderia ser mais sexy.

Ao se verem, eles sorriram e se abraçaram como nunca fizeram antes. Ana, que já estava sensível, sentiu as suas pernas tremerem ao ter seu corpo completamente pressionado contra o dele e seus braços fortes envoltos em sua cintura fina. Ela era capaz de sentir o coração dele bater mais rápido e quando se deu conta havia ganhado o maior e mais intenso beijo da sua vida. Era tanto desejo que sentiu até dor, uma dor tão intensa que não queria parar nunca mais de ser beijada, bem ali, na entrada do seu trabalho e de frente para o mar. Quando finalmente se separaram não havia mais fôlego para ela e muito menos efeito para o protetor diário, que nesse momento parecia ter sido invadido por todo aquele mar da vista em frente. Ele falava, mas ela entendia pouco, demorou certo tempo para ela encontrar novamente o eixo e participar ativamente da conversa.
- Vamos comer aqui mesmo? – Ele perguntou.
- Vamos! – Ela respondeu.

Nunca esteve tão vulnerável e não se sentiu capaz de saber o que fazer com isso.

Durante o almoço eles conversaram sobre vários assuntos e com o tempo ela foi relaxando ao ponto que tudo ficou como antes, leve e cortês.  Em dado momento do encontro ele ficou encarando-a em silêncio, ela tentou não falar nada e decidiu esperar que ele parasse naturalmente, mas exatamente como no dia em que se conheceram, ele não parecia intimidado com o desconforto causado e muito menos com o enfrentamento dela. Ele simplesmente sorriu com os mesmos olhos brilhantes de sempre e finalmente perguntou:
– Você me vê no seu futuro?-
- Como assim, no meu futuro? Ocupando um lugar especial ou simplesmente estando nele?- Ela respondeu.
- Não sei. Nesse momento, como me vê?-
- Você é alguém que me faz muito bem e que gostaria de manter para sempre perto. – Ela respondeu.
Ele sorriu como quem tivesse ouvido algo que o fez feliz e se concentrou em terminar a sua comida. Depois disso, não foram ditas muitas coisas e logo se despediram com um amigável beijo na bochecha.

PARTE 3

Naquela madruga ela não procurou o Jota e nem conversou com o Carlos. Ela só queria dormir em paz.

Restabelecida das emoções, parecia que tudo tinha voltado ao normal. Durante o dia eram conversas triviais com o Carlos e durante a noite ela procurou novamente o Jota, com as mesmas intenções de antes. Dessa vez ela estava cheia de ideias e esperava o empolgar tanto quanto se sentiu empolgada anteriormente. Ele estava ocupado, mas ela havia decidido esperar por ele e quando já estava quase perdendo para o sono ele apareceu. A noite não foi como ela imaginou e ainda recebeu doses e doses de deboche de quem parecia acreditar tê-la em uma posição de submissão e vulnerabilidade. Ana se sentiu muito estranha, tinha concordado em baixar a sua guarda e ficou bem desapontada quando notou isso ser usado contra ela, mas o dia seguinte seria um novo dia e nele manteria distância do Jota até que a raiva passasse.

Logo cedo foi surpreendida com um longo áudio do Carlos falando sobre como foi importante para ele tê-la conhecido e como tinha conseguido transferência para trabalhar na cidade dela permanentemente. O áudio de quase 2 min foi seguido da frase: - Quer namorar comigo e ver no que dá?- Sem ter muito no que pensar, ela respondeu quase que de imediato. – Sim!-

Ela estava feliz e no decorrer do dia foi surpreendida com uma atitude no mínimo inesperada de uma pessoa que nunca iniciava conversas e sempre se colocava em uma posição passiva. O Jota havia mandado um áudio feliz e eloquente, propondo em outras palavras que deixassem o que estava acontecendo rolar. Um ano se passou e somente agora ele se sentiu estimulado a deixar ela ficar por perto, somente agora que o sexo realmente começou a entrar na equação. Ela não sabia como se sentir em relação aquilo, queria o sexo, mas só queria aquilo? Por um lado, parecia alguém feliz com a possibilidade de conseguir uns nudes e por outro, poderia ser a chance de criar alguma coisa bacana entre eles, que apesar de tantas horas conversando, não sabiam praticamente nada sobre a vida um do outro. Mas e o Carlos? Continuar com o Jota, não faria dele uma espécie de Ricardão digital?  O resultado de toda essa confusão foi ela ter ouvido o mesmo áudio por no mínimo 40 vezes durante todo o dia, não respondê-lo até que chegasse a madrugada e tivesse coragem de explicar como tudo havia ficado diferente. Agora tinha um namorado.

Na verdade, nada dentro tinha mudado. Jota e Carlos ocupavam lugares bem diferentes, mas todo o comportamento do Jota parecia estranho. Confiança nunca foi uma palavra presente na descrição dessa relação e então para ela agora tudo tinha acabado. Deveria ter terminado assim, sendo gentis e civilizados, mas a Ana não sabe fechar portas sem quebrá-las e foi exatamente isso que ela fez. 
A tentação de ficar com ele novamente nunca foi embora, então era preciso criar um afastamento que estivesse fora das mãos dela violar. Lembra que ela não sabe gerenciar pessoas? Pois bem, ela também não sabe gerenciar os próprios sentimentos e utilizando de tudo que conquistou com o Jota durante um ano, se apropriou da fragilidade dele a ponto de fazê-lo nunca mais querer falar com ela. Achava que assim seria mais fácil superar algo que só tinha acontecido em sua cabeça.  Que engano...

CONTINUA NO PRÓXIMO CAPÍTULO...

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