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Uma carta aos inquietos.





No começo da nossa vida parece tudo muito fácil e a sensação é que viemos com o roteiro completamente pronto. Com somente alguns ingredientes personalizáveis, a receita para o sucesso a gente já tinha. É preciso estudar bastante, fazer uma universidade, procurar um bom emprego, ser um trabalhador exemplar fazendo o serviço com responsabilidade e afinco e tudo ficará bem. Irá se aposentar e a sua vida estará completa. Filhos, netos e um dinheirinho bacana todo mês.

O que as pessoas até avisam, mas que é complicado de entender quando somos muito jovens, é que não funciona como 1+1 e que nada é tão simples quanto parece. O que serve para um, não se aplica automaticamente para o outro e acredito que a minha primeira decepção da vida adulta foi descobrir que o seu potencial e esforço no trabalho, não implicam diretamente no seu reconhecimento e ganho financeiro. Há muito mais regras determinando um jogo não tão justo e que exige coisas que nem sempre está disposto a sacrificar, coisas que ninguém seria capaz de te alertar. Aí começaram os primeiros passos do meu caminho tortuoso e bem característico da geração Y.

Escolher bater ponto e fazer o mesmo trabalho mecânico todos os dias, é sufocar a grande parte de mim voraz por aprender e transformar tudo que tenho a minha volta com criatividade, devoção e paixão. Pareceu um discurso muito apaixonado, adolescente e irreal? Talvez seja, mas aos meus 27 anos ainda não aprendi como levar uma vida tranquila aprisionada em uma caixa, fazendo mais do mesmo o tempo inteiro, contente em ter como pagar as contas e somente isso. Ok com empresas que querem o seu sangue, mas recusam a minha alma.

Sempre ouvi dizer que coragem e burrice são irmãs gêmeas. Se por um acaso tudo deu certo, então se trata de um ato de coragem, se deu errado, foi somente burrice. Dentro dessa lógica, a vida da maioria da população segue sufocada e infeliz durante grande parte do dia e se mantém inerte, com medo de que fazer diferente seja só mais erro que pode ser evitado. Nesse ponto não difiro de ninguém, tenho contas para pagar, pessoas que dependem de mim e muito medo de estar dando um “vôo de galinha”, além disso, ainda tenho que lidar com o peso dos medos alheios que me julgam e discursam com pensamentos simplórios e cheios de uma razão que me recuso a compartilhar.

Sei dos riscos e dificuldades que escolher o incerto proporciona, mas tenho ainda os 50% que me dão esperança todos os dias e vontade de continuar em campanha até que o território seja conquistado. Ser negra em um país como o nosso, ser baiana e continuar no meu Estado, querer ver além e tocar o diferente quando ninguém mais tem interesse nisso. Sempre parecer louca, mas vendo as suas ideias sendo realizadas anos depois pelos mesmos que as rejeitaram antes, tornam a luta diária de ser quem se quer ainda mais pesada e com uma medalha de vencedor ainda mais cobiçada.

Essa carta não tem um grande final motivador, ela não chegará ao fim dizendo que com certeza vamos conseguir. Na verdade, torço para que seja assim, mas no momento, tudo que posso dizer é que devemos manter a CORAGEM! Enquanto essa brasa estiver queimando em nosso peito, nossos passos vão continuar a fazer sentindo, e com fé, logo vamos encontrar o lugar que desejamos e fazer dele o nosso refugio de criatividade, inovação e qualidade de vida.

Força!

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